A operação militar russa na Ucrânia tomou conta dos noticiários e debates nas últimas semanas. Toda a grande mídia capitalista repete insistentemente a propaganda de guerra dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em uma avalanche de desinformação e mentiras contra a Rússia, ao mesmo tempo em que tenta promover o presidente-comediante Volodymyr Zelensky e os bandos neonazistas ucranianos à condição de heróis. Uma onda russofóbica, acompanhada pela demonização da figura de Vladimir Putin e censura às mídias russas, se espalha pelo ocidente e o conflito militar pode tomar grandes proporções na Europa, incluindo a utilização de armas nucleares em caso de envolvimento direto da OTAN. O tema de fato é importante, pois as sanções impostas pelos EUA e pela União Europeia contra a Federação Russa devem aprofundar a crise capitalista global, e consequentemente, afetar o cotidiano das classes trabalhadoras por todo o mundo.
No Brasil, as péssimas condições de vida da maioria do povo que foram ampliadas com os efeitos da pandemia, da crise ambiental e da gestão genocida e neoliberal do miliciano Jair Bolsonaro, devem ser agravadas com uma nova alta nos preços dos itens básicos e dos combustíveis, com o aumento da inflação e do custo de vida. O governo neofascista de Bolsonaro, que adotou uma posição dúbia em relação ao conflito, em conjunto com o Congresso Nacional de ladrões tem utilizado o tema da escassez de fertilizantes vindos da Rússia e de Belarus para avançar no projeto que libera a mineração em territórios indígenas, atacando os povos originários.
Essa situação para a qual a Rússia foi empurrada pela OTAN/EUA, após diversas advertências e tentativas frustradas de negociações diplomáticas, tem como interesse escuso ampliar a guerra econômica contra o país, com a Ucrânia sendo usada como palco para o conflito. Na operação militar russa, que possui um caráter defensivo após a OTAN e o governo ucraniano iniciarem a preparação de uma operação para invadir e retomar o Donbass e cujo objetivo anunciado e concreto é “desnazificar e desmilitarizar” o regime de Kiev, se joga o fim da hegemonia absoluta dos EUA sobre o mundo e uma nova ordem multipolar. A vitória russa sobre a OTAN e os neonazistas armados por ela, que mataram milhares de civis ao longo desses últimos oito anos na região do Donbass, é fundamental para todos os povos. Nenhuma nação poderá ser plenamente soberana, e muito menos, qualquer revolução socialista verdadeira poderá avançar, enquanto o imperialismo norte-americano, principal inimigo da humanidade, for a polícia do mundo. Por isso, mesmo considerando todas as contradições que envolvem o conflito e o próprio caráter conservador em muitos aspectos do nacionalismo grão-russo de Vladimir Putin, a defesa intransigente da derrota da OTAN e do regime nazi-fascista ucraniano, assim como, o triunfo das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, é a única posição coerente e anti-imperialista que deve adotar o campo socialista e revolucionário.
A Ucrânia é uma nação que vive décadas de uma profunda divisão interna. O país que integrou a antiga União Soviética até sua dissolução em 1991, é fortemente polarizado entre sua parte ocidental, que reivindica um pertencimento a Europa, e todo o seu leste, que possui uma importante identidade político-cultural com a Rússia. Em 2014, violentos protestos contra o presidente eleito pela maioria pró-russa, que ficaram conhecidos como Euromaidan, derrubaram o governo de Viktor Yanukovych e um golpe de Estado de caráter fascista se consolidou com o novo governo do bilionário Petro Poroshenko. A população do leste passou a ser fortemente reprimida e o Massacre de Odessa, quando 42 antifascistas foram queimados vivos na Casa dos Sindicatos se tornou um símbolo dessa brutalidade nazi-fascista. Em referendo, a região semiautônoma da Crimeia decidiu se desmembrar da Ucrânia e retornar à Federação Russa. As organizações comunistas foram colocadas na ilegalidade, enquanto as forças armadas ucranianas, tendo à sua frente batalhões neonazistas e milícias banderistas (ideologia que faz referência a Stepan Bandera, um colaborador de Hitler na Segunda Guerra que chefiou a Organização dos Nacionalistas Ucranianos), passaram a atacar a população civil identificada com a Rússia por todo o país. Entre estes setores, que consideram os povos eslavos como uma sub-raça que deve ser dizimada, se destacaram os batalhões neonazistas de Azov e Aidar, a milícia supremacista Centúria, a confederação de organizações nazi-fascistas Pravy Sektor e o partido nazista Svoboda. O governo de Volodymyr Zelensky, que assumiu em 2019, seguiu ampliando esses ataques e desrespeitando o Tratado de Minsk, incorporando os setores neonazistas ao Estado e aumentando a presença da OTAN/EUA, além de proibir a língua russa no país.
A OTAN, que insuflou e apoiou a “revolução colorida” de 2014 no país, após o golpe de Estado passou também a treinar e armar a extrema-direita ucraniana, implantando inclusive laboratórios para produção de armas biológicas, enquanto parte do povo do leste, muito identificado com o passado soviético, nessa região conhecida como Donbass, se levantou contra o governo fascista e os bandos neonazistas. Com a destacada participação dos sindicatos de trabalhadores e das organizações de esquerda foram fundadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, contando com o apoio russo e para onde confluíram também brigadas internacionais antifascistas. Essa região do leste da Ucrânia foi historicamente, durante a grande revolução socialista e a guerra civil russa (1917-22), o território livre autogovernado por operários e camponeses que ficou conhecido como Makhnovtchina, por conta do líder do Exército Revolucionário Insurgente que venceu a contrarrevolução, o camponês anarquista Nestor Makhno.
A Rússia é atualmente um país cuja economia é baseada na exportação de commodities, principalmente de petróleo e gás natural para a Europa, mas que possui suas áreas estratégicas nacionalizadas e uma importante capacidade militar, em grande parte herdada da URSS. Com o fim do governo vassalo ao imperialismo de Boris Iéltsin, que sucedeu o desastroso colapso da União Soviética, a ascensão do nacionalismo grão-russo de Putin e o início da recuperação econômica do país a partir dos anos 2000, tiveram início as hostilidades entre a Federação Russa e os EUA. A OTAN, organização fundada após o fim da Segunda Guerra Mundial e o braço pelo qual os norte-americanos estendem sua dominação imperialista pela Europa, passou a cercar militarmente a Federação Russa. Em 1997, a OTAN incorporou boa parte das ex-repúblicas socialistas do leste europeu que fizeram parte do Pacto de Varsóvia e os países bálticos que formavam a URSS, em 1999, bombardeou e destruiu a Iugoslávia, na chamada “guerra do Kosovo”.
Agindo como dono do mundo, o imperialismo norte-americano vem acumulado centenas de intervenções, invasões e sabotagens contra outras nações, incluindo as sangrentas ditaduras militares na América Latina de 1960/70, que se seguiram de guerras e golpes, bombardeios e ocupações militares em países do Oriente Médio, da África e de todo o sul global nos anos 1980/90. Em 2001, os EUA invadiram o Afeganistão, e em 2003, bombardearam o Iraque, cometendo incontáveis crimes contra a humanidade. Da farsa da “guerra ao terror” de George Bush, passando pela gestão mais brutal contra os povos do mundo de Barack Obama, com a simbólica e atroz destruição da Líbia de Kadafi, até o governo supremacista de Donald Trump, a máquina de guerra dos EUA seguiu atacando os povos, mas também se afundando diante da resistência anti-imperialista e colecionando derrotas. Na Síria, onde armou o terrorismo wahabista do “Estado Islâmico” (ISIS/Daesh) os EUA foram vencidos. Humilhados no Iraque e no Afeganistão, sofreram reverses também na Venezuela bolivariana e no Iêmen com a resistência houthi contra sua aliada coalizão saudita, além de perder diversas posições no continente africano, como no Mali e na República Centro-Africana, onde opera a partir do Comando dos Estados Unidos para a África (AFRICOM).
A chamada “nova guerra fria”, que vem se acentuado nos últimos anos através da guerra econômica e por diversas disputas geopolíticas, tem se caracterizado pelo antagonismo entre o bloco imperialista encabeçado pelos Estados Unidos e a aliança contra-hegemônica liderada por China e Rússia, e tomou um novo impulso com a gestão de Joe Biden, um representante direto do complexo industrial-militar e do capital ultramonopolista norte-americano. Com o avanço da tentativa de formalizar a entrada da Ucrânia na OTAN, que pretendia fornecer armas nucleares para neonazistas e já estava produzindo armas biológicas, além do início da preparação de um massacre contra as repúblicas populares do Donbass, o governo russo com um grande apoio popular e a aprovação unanime da Duma (parlamento russo) iniciou a operação militar especial na Ucrânia com o objetivo anunciado de “desnazificar e desmilitarizar” o regime ucraniano.
Além da propaganda de guerra de toda mídia capitalista ocidental e o apoio de seus subalternos europeus, o imperialismo norte-americano encontrou como aliado uma esquerda moribunda e pequeno-burguesa que majoritariamente saiu em defesa do regime nazi-fascista de Kiev. Como produto de décadas de investimentos em propaganda anticomunista, sabotagem do pensamento crítico e cooptação direta pelo imperialismo, essa esquerda paladina da moralidade ocidental-burguesa produziu um discurso cuja centralidade é uma afirmação vazia contra a guerra, onde se faz comparações esdrúxulas com a invasão do Iraque pelos EUA, ou o julgamento moral e liberal de Vladimir Putin como um autocrata e um “novo Czar”, repetindo a lógica da velha narrativa sobre o “eixo do mal” e servindo como linha auxiliar da OTAN. Alguns setores, também erroneamente classificam a operação militar russa como uma “guerra interimperialista” e afirmam existir um “imperialismo russo”. Um erro grosseiro, que não parte da necessária “análise concreta da situação concreta” e do entendimento correto das relações imbricadas entre Estado e capital, sendo incapaz de entender o básico, pois o anti-imperialismo é um campo necessariamente contraditório que se produz como reposta à dominação imperial e que tem como único ponto de convergência tática o enfrentamento aos EUA, que exerce um controle econômico e militar sobre o mundo e é o principal inimigo da humanidade. Nesse campo contraditório, cabem inclusive projetos societários antagônicos, desde conservadores como o nacionalismo grão-russo e o Talibã no Afeganistão, ou revolucionários, como o Exército de Libertação Nacional da Colômbia e o Exército do Povo Paraguaio (EPP), passando pela diversificada e heroica resistência palestina contra o Estado fantoche e sionista de Israel.
A operação militar russa se mostra, cada dia mais, como uma ação justa e correta, comprovando inclusive que os nazi-fascistas de Kiev, que usam civis como escudo humano, executam sumariamente suspeitos de colaboração e realizam operações de bandeira falsa, haviam iniciado em conjunto com a OTAN atividades de laboratórios para a fabricação de armas de destruição em massa. Por isso, a ação russa deve contar com o apoio das organizações revolucionárias, internacionalistas e anti-imperialistas, assim como, a vitória sobre a OTAN precisa ser saudada por todos os povos do mundo, pois o enfraquecimento do imperialismo abre caminho para as lutas de libertação nacional em todo o mundo, e consequentemente, para uma nova vaga histórica de revoluções socialistas. Acreditamos que a melhor solução para os povos eslavos, além da derrota do Estado nazi-fascista ucraniano, passa pela autodeterminação do povo do leste com a formação de uma nova república popular que se estenda do Donbass à Transnístria, pequeno enclave na fronteira da Moldávia que permaneceu soviético, passando por Kharkiv e Mariupol, pela Criméia e por Odessa, envolvendo todo o litoral dos mares de Arzov e Negro.
MORTE A AMÉRIKA E A OTAN!
PELA DERROTA DO REGIME NAZI-FASCISTA DE KIEV E DO IMPERIALISMO!
Movimento de Unidade Popular — MUP
Março de 2022