No dia de hoje, 5 de abril, quero prestar uma homenagem a um operário, torneiro mecânico, trabalhador da Vilares, que deu sua vida pela classe trabalhadora e nunca traiu sua classe ou decepcionou seus filhos, sua companheira e seus companheiros. É um exemplo a ser seguido.
No dia 5 de abril de 1971, caiu meu Comandante Henrique, Devanir José de Carvalho, que foi levado ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) para ser barbaramente torturado pela equipe do Esquadrão da Morte, do delegado Sérgio Fleury, militares do DOI-CODI e pelo Cônsul dos EUA, em São Paulo, Claris Howley Halliwell.
Comandante Henrique não forneceu aos torturadores nem mesmo seu nome. “Quando chegou aqui, Henrique deu uma cusparada na cara do Doutor Fleury. Não falou nem mesmo o nome dele”, me contou o torturador Carlinhos Metralha para me amedrontar sobre o que me esperava lá naquele lugar de torturas e extermínio.
Quando Henrique caiu, eu ainda estava solto e atuando no grupo de ação do MRT – Movimento Revolucionário Tiradentes. Para salvar Henrique das terríveis torturas, organizamos às pressas a captura do presidente da FIESP, Teobaldo de Nigris, que financiava e presenciava sessões de torturas junto com Henning Boilesen. Seria uma troca um por um. A vida do presidente da FIESP, entidade patrocinadora das torturas e da perseguição aos operários de São Paulo, pela vida do Comandante de quase todas as ações contra a ditadura em São Paulo. Não deu tempo.
As torturas se prolongaram por quase 3 dias seguidos e no dia 7 de abril, por volta das 19 horas, Fleury, o capitão Ênio Pimentel Silveira, capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirilo, o major Carlos Alberto Brilhante Ustra e o cônsul dos EUA em São Paulo, Claris Howley Halliwell, entre outros, executaram Devanir José de Carvalho sem que ele tivesse fornecido seu nome.
Quando estávamos na porta da casa de Nigris, recebemos a informação de dentro do DOPS de que Fleury e cambada haviam assassinado Devanir “para não fazer dele um segundo Bacuri”. Essa mesma frase ouvi do torturador Carlinhos Metralha, numa referência ao Comandante Bacuri, Eduardo Collen Leite, torturado por longos 109 dias e assassinado dentro da Fortaleza dos Andradas, do Exército, na Baixada Santista.
Os militares de hoje, que mantém o genocida delinquente presidencial, querem manter a impunidade para seus colegas de farda, que torturaram Devanir e tantos brasileiros e brasileiras, que lutavam contra a outra ditadura, instalada sob o patrocínio, orientação e manutenção de uma potência estrangeira, os EUA, do senhor Claris Howley Halliwell. Os mesmos militares que assassinaram Eduardo Collen Leite, o Comandante Bacuri, dentro da fortaleza do Exército, na Baixada Santista.
Os nomes de Devanir José de Carvalho, Comandante Henrique, operário e gênio militar, de Eduardo Collen Leite, Comandante Bacuri, e tantos outros e outras militantes da luta contra a ditadura e pela libertação da Classe Trabalhadora da exploração capitalista, sempre serão lembrados pelo nosso povo. Já essa rastaquera que assaltou o país não.
DEVANIR JOSÉ DE CARVALHO, PRESENTE!
ABAIXO A DITADURA, DO PASSADO E DO PRESENTE!
Por Ivan Seixas, jornalista, ex-preso político, guerrilheiro e militante do Movimento Revolucionário Tiradentes – MRT.