O povo haitiano protagonizou a primeira revolução libertadora latino-americana, abolindo a escravidão e conquistando a independência do país. A vitoriosa rebelião negra de São Domingos, liderada por Jean-Jacques Dessalines na abertura do séc. XIX (1791-1804), sacudiu o Caribe colonial, aterrorizou senhores de escravos e inspirou diversas rebeliões negras em todo o mundo. Mas desde sua libertação do domínio colonial francês, o país passa por um interminável ciclo de governos despóticos, intervenções estrangeiras, golpes, tiranicídios, rebeliões e profunda pobreza.
Nos últimos meses o Haiti vive uma situação de rebelião popular permanente, com mobilizações massivas nas ruas contra o governo neoliberal de Jovenel Moïse, a corrupção e as condições sociais do povo, e ao mesmo tempo, entrou em uma nova uma espiral de caos e violência reacionária. A situação política se deteriorou ainda mais, quando em 7 de fevereiro desse ano o presidente reacionário Jovenel Moïse consumou um novo Golpe de Estado.
Membro do partido neoliberal Tèt Kale (PHTK), o corrupto Moïse tem 52 anos e é empresário. Chegou ao poder em meio a acusações de fraude e após eleições com apenas 21% de participação, em 2016. A crise do seu governo teve início com o esquema de corrupção que desviou mais de 2 bilhões de dólares do fundo da Petrocaribe e das agressivas medidas neoliberais aplicadas, impostas após um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que acabaram com os subsídios dos combustíveis e iniciaram a privatização do setor elétrico do país.
Com o Golpe de Estado, Moïse tenta manter seu mandato indefinidamente usando a violência política paramilitar e a repressão contra o povo e a oposição, contando com o apoio de potências imperialistas, principalmente dos Estados Unidos, Canadá e França. O legislativo foi fechado em janeiro, após os parlamentares entregarem seus mandatos e agora o governo golpista quer alterar a constituição através de um referendo em 25 de abril organizado pelo Conselho Eleitoral Provisório (CEP), cujos membros foram indicados pelo próprio Moïse, e que tem o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e da OEA.
As centrais sindicais do país, organizações de trabalhadores rurais e urbanos, movimentos de mulheres, diversas agrupações da diáspora, além do próprio judiciário, parlamentares, câmaras empresariais, a Conferência Episcopal, setores evangélicos e a ordem dos advogados conformam a oposição e se colocam contra essa nova ditadura neoliberal, dando início a uma situação de duplo poder, já que o governo Moïse mantém o controle do Estado haitiano – em particular as suas forças repressivas – enquanto a grande maioria dos setores da sociedade civil decidiram nomear um presidente provisório – o juiz Joseph Mécène Jean Louis – com o objetivo de comandar o que chamam de “transição de ruptura” e convocar eleições a médio prazo. Esse presidente provisório tem o apoio de toda oposição, que inclui setores progressistas e liberais, assim como, nacionalistas e anti-neoliberais que se articulam no polo de oposição mais radical chamado de Fórum Patriótico Popular. O setor conservador da oposição, por sua vez, compete pelo apoio da Embaixada dos EUA. O grande número de fundações, agências de cooperação, ONGs coloniais e igrejas neopentecostais norte-americanas tentam cooptar e desmobilizar os movimentos de trabalhadores rurais e urbanos, mas isso não foi suficiente para impedir que o povo haitiano fosse para as ruas protestar em mobilizações radicalizadas e massivas contra o Golpe de Estado, a violência estatal, a corrupção e a ingerência estrangeira.
As grandes mobilizações nacionais continuam nesse mês de abril. Em fevereiro, trabalhadores paralisaram o país com uma Greve Geral e outra foi convocada no último dia 15 de março. A longa tradição combativa e de luta pela vida do povo haitiano é marcada também por tragédias. Em 2010 um terremoto deixou cerca de 300 mil mortos e mais 300 mil feridos, destruindo parte da capital, Porto Príncipe. Após o terremoto, uma epidemia de cólera tomou conta da ilha afro-caribenha, que tem cerca de 10 milhões de habitantes e é um dos países mais pobres do mundo.
Os governos imperialistas, principalmente os EUA, intervém e ocupam militarmente o Haiti por décadas, com a desculpa de realizar “missões humanitárias”. As últimas ações militares se deram com a ocupação da MICIVH (1993) e depois com a sanguinária Minustah (2004-2017), quando o país foi ocupado por tropas da ONU lideradas pelo Brasil durante os governos do PT/PMDB e coordenadas por figuras como carcomido e fascista general Augusto Heleno, atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo genocida Bolsonaro/Mourão. A ocupação militar do Haiti pela Minustah, com massacres, estupros e diversas violações de direitos humanos prepararam as tropas brasileiras para a inédita política de ocupação militar de territórios urbanos no Brasil, as Unidades de Polícia Pacificadora, as famigeradas UPPs, implementadas pela política de segurança pública genocida dos governos do PT/PMDB.
Desde 1957 todos os governos haitianos tiveram intervenção do imperialismo norte-americano, que também patrocinou os golpes que derrubaram o governo do ex-padre progressista Jean-Bertrand Aristide, primeiro em 1996 e depois em 2004. O povo negro haitiano segue com uma disposição heroica de luta e resistência nas ruas, em um país destruído economicamente, esgotado pela pobreza extrema, tragédias ambientais, corrupção, políticas neoliberais e intervenções imperialistas. Apenas a unidade anti-imperialista e a aliança entre trabalhadores da cidade e do campo, a juventude combativa e as organizações populares podem derrotar a ditadura neoliberal de Jovenel Moïse e garantir a construção de um futuro digno para o sofrido povo haitiano.
ABAIXO A DITADURA NEOLIBERAL DE MOÏSE E O IMPERIALISMO NO HAITI!
TODO PODER AO POVO! POR UMA NOVA REVOLUÇÃO NEGRA E LIBERTADORA!